sexta-feira, outubro 15, 2004

(Provisório) EDI (Electrónica Digital de Interface)

Gaja, de Computador portátil debaixo do braço, a caminhar apressadamente pelo corredor do Instituto. Abre-o, pára, e fica estarrecida a olhar para o ecrã.
O Gajo corre pelo corredor de encontro a ela e rouba-lhe o portátil... continua a correr ignorando o facto de ela não esboçar nenhuma reacção. Continua a correr pelo parquiamento, para fora do Instituto e entra no primeiro Metro em direcção ao Oriente.
Percorre a carruagem até ao final, sempre olhando de soslaio para traz, pelo ombro. Com o material roubado debaixo do braço, o Gajo corre para lá dos pavilhões préfabricados e do lobby da construção. Quando se encontra nos jardins por baixo da Ponte Vasco da Gama, sorri de alívio e senta-se num banco próximo.

Um fervor de curiosidade pulsa-lhe no sangue, fazendo-o erguer o ecrã. Um programa imposto pela plataforma Windows corre sobre a camada de hardware e SO envolventes. Quando o Gajo coloca o ponteiro sobre a interface gráfica do programa Windows Media Player, aparece uma janela amarela com a palavra Play. O gajo clica, e o ecrã fica negro. Uma imagem demasiado familiar aparece depois.
E aterrado fica o Gajo, quando se apercebe que é um plano de imagem de um filme no exacto sítio onde ele se encontra. A imagem do filme parece aproximar-se cada vez mais em direcção a um banco. Banco esse onde se encontra alguém a olhar para o ecrã de um portátil. Ele mesmo. ( plano da cara do gajo quando se vira para traz)....



[ecrã negro...]
Saigoneman

segunda-feira, outubro 11, 2004

Um poemazinho da Adilia Lopes

Sim, este poema já anda aí batido por alguns blogs, mas azar!!!
Gostei de descobrir que a música "Meteorológica" do projecto "A Naifa" (muito boa música, recomendo) tem a letra de um poema da Adilia Lopes. Para extravazar a minha alegria por esta descoberta, aqui fica o referido poema:

Meteorológica

para o José Bernardino

Deus não me deu
um namorado
deu-me
o martírio branco
de não o ter
Vi namorados
possíveis
foram bois
foram porcos
e eu palácios
e pérolas
Não me queres
nunca me quiseste
(porquê, meu Deus?)
A vida
é livro
e o livro
não é livre
Choro
chove
mas isto é
Verlaine

Ou:
um dia
tão bonito
e eu
não fornico

A solidão
de Adão
antes da criação
de Eva
devia ser
terrível
mas a minha
é bem pior
os homens
que escreveram
o Génesis
não pensaram
que Adão
em vez de saudar
Eva
com um grito de júbilo
a mandasse embora
com sete pedras na mão
mas eu acho
que foi
o que me aconteceu
temendo isso
Deus
não me deu
o papel de Eva
nem o de Maria
porque também
S. José
me tinha corrido
a pontapé