Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O Sol doira
Sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa (1888 - 1935)
in "Poesias", Lisboa, Ática, 1952 (Colecção Poesia)
1 comentário:
Ah pois é, este poema é lindo!! Acho que já o tinha publicado por aqui!
Outra cena fixe: estou agora a ouvir a oxigénio e o que está a dar?? word wrapping original! Isto é lindo!!!
Um abraço para ti e um beijinho para a SandraE se por acaso consultarem isto em viagem... Nunca se sabe :)
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